Na cidade costeira tranquila de Pemba, onde os sons rítmicos do oceano se encontram com o zumbido suave da vida quotidiana, Abu, um pescador de 32 anos, é um testemunho da resiliência que pode emergir das circunstâncias mais difíceis. 

A história de Abu começa no tumultuoso norte, onde a violência o obrigou a fugir de casa, deixando para trás ecos de explosões e a memória assombrosa de uma partida apressada.

"Ouvi o tiroteio, mas não vi nada. Havia também bombas a explodir; assustei-me e tive de sair à pressa. Caí e machuquei o braço ”, relembra.

Barco de pesca na praia onde Abu pesca em Cabo Delgado. Foto: Amanda Nero / IOM 2023

Ao chegar a Pemba, Abu enfrentou o desafio de encontrar emprego, agravado pelo obstáculo adicional de viver com uma deficiência. Sua jornada tomou um rumo diferente quando a OIM o apoiou a encontrar uma oportunidade de trabalhar com a associação de pesca local. 

A OIM doou também frigoríficos à associação de pescadores, aumentando a sua capacidade de conservar e vender as suas pescas. Este apoio tangível não só respondeu às necessidades humanitárias imediatas como lançou as bases para uma solução duradoura - uma espécie de ponte entre a resposta à crise e a capacitação a longo prazo. Abu, que lutava para encontrar o seu lugar num mundo que parecia indiferente aos seus desafios, encontrou um propósito renovado.

Abu com a sua nova cadeira de rodas. Foto: Amanda Nero / IOM 2023

"Quando eu era criança, brincava com outras crianças sem problemas, mas à medida que crescia, comecei a sentir dor. Acho que foi porque os ossos iam crescendo", reflecte Abu. Abu aprendeu a pescar com o irmão quando ainda era pequeno.

Pela primeira vez na sua vida, Abu recebeu uma cadeira de rodas, doada pela OIM, quebrando assim algumas barreiras físicas que antes o confinavam. "No começo, meus braços doíam, mas com o tempo acho que meus braços ficaram mais fortes. Fiquei feliz por ter a cadeira de rodas. Nas zonas com muita areia, é mais difícil... mas muitas vezes, quando fico entalado, os miúdos do bairro ajudam-me", partilha com um sorriso.  

Abu a percorrer a aldeia com a sua cadeira de rodas recém-adquirida. Foto: Amanda Nero / IOM 2023

Nas acções humanitárias, a atenção recai frequentemente sobre os mais vulneráveis, e as pessoas com deficiência não são exceção. Ao reconhecer os desafios únicos que enfrentam durante as emergências, a OIM é pioneira numa abordagem abrangente para reforçar a proteção e a inclusão das pessoas com deficiência nas suas iniciativas de resposta a emergências. O objetivo é eliminar as barreiras que impedem o seu acesso à proteção e assistência cruciais, garantindo que a sua participação na sociedade não seja apenas igual, mas também segura e significativa. Em colaboração com os serviços sociais do governo e parceiros externos, a OIM esforça-se no sentido de colmatar as lacunas em matéria de acessibilidade. Um passo notável é a disponibilização de dispositivos médicos de assistência essenciais, como cadeiras de rodas e muletas, dando às pessoas com deficiência as ferramentas necessárias para a sua mobilidade e independência. Para além da ajuda imediata, a estratégia multi-setorial da OIM estende o seu braço de apoio para incluir as pessoas com deficiência em actividades de subsistência, abrindo portas a oportunidades que transcendem a deficiência. É uma narrativa onde cada indivíduo, independentemente das suas capacidades, não é apenas um destinatário de ajuda, mas um participante activo na reconstrução e na construção do seu futuro. 

Entretanto, Abu encontrou um novo lar na ilha das Quirimbas, onde o custo de vida é mais acessível. O seu percurso desde a deslocação até à autossuficiência encarna a essência do nexo - uma transição da ajuda humanitária para soluções duradouras, assentes nos princípios da inclusão e da capacitação. 

A história de Abu não é apenas um triunfo individual, mas também um caminho para uma sociedade mais solidária e inclusiva. O percurso de Abu inspira-nos a construir pontes que vão para além da ajuda imediata, promovendo soluções duradouras que permitam aos indivíduos reescrever as suas narrativas e retomar as rédeas do seu próprio destino.

Esta intervenção foi possível graças ao apoio da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID - Bureau for Humanitarian Assistance), da Ajuda Humanitária da Comissão Europeia (ECHO), do Foreign, Commonwealth & Development Office (FCDO), da Embaixada da Irlanda em Moçambique, do Ministério Federal das Relações Exteriores da Alemanha (GFFO) e da Embaixada Real da Noruega em Maputo.

Para ler a história em inglês, clique aqui.

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SDG 8 - Decent Work and Economic Growth
SDG 10 - Reduced Inequalities